Pacientemente na nossa história, mente e corpo são inseparáveis. Pela experiência vemos que, na maior parte das vezes, as emoções adaptam-nos os comportamentos no momento, e com a razão tende-se a determinar a seleção de comportamentos no futuro. Com a certeza porém de que, existirão sempre regiões obscuras e caves onde só nós descemos. Lá diz a frase: há uma grandeza em todas as loucuras, uma força em todos os excessos.
O que permite dar à vida esta grande complexidade é o cérebro. A razão porque temos cérebro e mente e consciência e raciocínio é para nos ajudar a viver melhor mesmo nos tempos que não são normais e que se tem de reaprender tanta coisa. O que bem pode revelar a geografia nítida da vida de todos nós, são os dias que escorrem peganhentos e os outros em que a luz forte das tardes de Junho nos chega como companhia habitual. São as casas de pobreza resignada e sem esperança em que a dor e a tristeza seca preenchem todas as frinchas, mas onde cintilam pessoas simples e verdadeiras. E as outras casas em que, uma felicidade tão especial parece marcar todos os dias o início de uma vida nova, a acontecer em todas as idades.
Mas a mente muda com rapidez, transforma fracassos em sucessos, descobre o que estava oculto, recria confiança e amizade ao mesmo tempo que põe de lado a cortina da vigilância e tudo o mais que nos inunda e não é crucial em termos de humanização e solidariedade, quando é preciso. É no cérebro que nascem as emoções que permitem o equilíbrio das nossas decisões.
O que mais me fascina no cérebro que não é mais do que uma couve flor é o milagre que é, e o total direito inalienável que reclama em continuar a sê-lo.É dentro dessa couve flor que cabem o céu e a terra. O Sol e as estrelas. Os oceanos. Que cabem os momentos que gravo sozinha para formar uma narrativa da minha vida quando não estou com os de quem gosto. Há lugar para todos, cabe lá tudo, as esperanças da humanidade e os desejos, os erros e as fantasias. Os romances de Tolstoi as músicas de Beethoven. A minha secretária cheia de livros e o saco de ginástica enfiado atrás da grande e usada cadeira Eames, a valorização do instante e o que fica para a posteridade.
E, cabem uma nova raça de pioneiros fortes, graves mas não complicados, rectos e precisos como uma régua, que são capazes de dançar loucamente, como de se isolarem para meditar, dispostos a pintar Paris inteira, com edifícios, praças, alamedas, torres e bairros até ao ultimo banco com o zelo de um artista, a quem gostava de pertencer , pelo imortal apetite da memória.